Leal Mundunde, o Poeta Leal Mundunde, é natural do município de Ambaca, província do Cuanza-Norte. Nasceu a 30 de Março de 1990 e é primogénito de Apolinário Domingos Francisco e de Victória Miguel António.
"Até aos nove anos, a minha história de vida foi construída no Cuanza-Norte, onde tive as primeiras lições com os meus pais, segundo os quais devíamos vencer sempre com justiça, valorizando o próximo e sabendo esperar a nossa vez”, começa assim a sua apresentação.
Em casa dos pais enfrenta, desde cedo, muitas dificuldades financeiras. "A situação piorou quando o meu pai, por motivos de saúde, foi forçado a partir para Luanda a fim de efectuar tratamento médico. Ficámos com a minha mãe, eu e mais três irmãos”, recorda. "Na minha infância, eu e a minha mãe percorríamos longas distâncias, do bairro Casoxi até à sede do município de Ambaca, para vendermos produtos do campo, mas muitas vezes optávamos pela permuta, fornecíamos produtos do campo e em troca recebíamos peixe ou sal proveniente de Luanda”.
O pai criou condições para estarem juntos em Luanda, o que se concretizou em 1999. "Pensava que a nossa vida seria melhor na capital, mas, infelizmente, as coisas pioraram”.
A mãe vendia no mercado do bairro Huambo e o pai, sempre que estivesse de folga na empresa onde trabalhava como segurança, dirigia-se ao Prenda para comercializar produtos diversos, para que em casa tivessem o que comer.
"Na infância, eu também vendia petróleo, bolacha, cigarro, procurava garrafas para a venda de petróleo, muitas vezes nos locais onde depositavam lixo, correndo riscos sobretudo de saúde. Acordava ainda de noite para este desafio, pois não tinha outra opção.” Leal Mundunde sentia dor no seu interior, confidencia-nos. "Não podíamos ter uma vida melhor do que aquela, no Natal tínhamos somente arroz branco e sumo”.
Um dos momentos mais difíceis da sua vida foi em 2001, quando perdeu a irmã. "Eu estava na sala de aula, quando recebi a triste notícia. Sai em lágrimas, antes de amanhecer a minha irmã já mostrava sinais de que estava a despedir-se e morreu nas primeiras horas do dia”.
Leal Mundunde começou a estudar muito tarde, próximo dos dez anos. "Sempre fui um estudante exemplar, apesar das condições de vida, repetia a roupa várias vezes e ia para a escola com fome”.
Muitas vezes os colegas do ensino primário riam-se, por eu não possuir roupas de marca, por repetir as roupas e calçado. Chorava, não na presença dos colegas, mas quando estava sozinho em casa a reflectir sobre a vida”.
Leal Mundunde sofria bullying devido ao nome "Mundunde”, pois a maioria tinha nomes em português. "Mas eu defendia o meu nome com orgulho”.
No meio de muitas dificuldades financeiras, Leal Mundunde termina o ensino médio em 2012, obtendo o título de Educador Social e fica um ano inteiro em casa, sem trabalho.
"Em 2014, ingressei no ensino superior, tendo concluído o 4º ano em Jornalismo em 2017, mas já exercia a profissão pois havia feito antes duas formações profissionais nessa área”.
"A primeira arte a surgir na minha vida foi a música. Tudo por influência dos meus pais, pois a minha mãe fazia parte do grupo coral e o meu pai, sempre que estivesse em casa, gostava de cantar e ouvir música. Era lindo ouvir os meus pais a cantar e ajudava a esquecermos as malamba da vida, pois muitas vezes nem água tínhamos”.
Ao ritmo do som do bidão, na infância Leal Mundunde cantava e os irmãos dançavam. Em 2004, decide ser músico do estilo Kuduro. Cantou a solo até 2008, altura em que criaram o grupo musical Os Meninos de Ouro, com o falecido Mr. Caio.
"Em 2008, optei por fazer teatro e fundámos, com Rafael Baptista e Mr. Caio, o grupo Teatral Os Meninos de Ouro. Actuei várias vezes em Luanda e influenciei crianças e jovens a fazerem parte do grupo, que existe até hoje, no Cassequel, mas eu abandonei em 2014”.
"A arte que levo de forma activa é a Poesia. Comecei a escrever poemas em 2006 e a declamar em 2009. Fruto de muito empenho, mantenho-me firme”.
Leal Mundunde foi secretário-geral do Movimento Literário Baronesa do Amor Cultura e Artes, que congregava artistas de várias províncias, tendo realizado, com os seus próprios meios, espectáculos em Luanda, Benguela, Malanje e Cuanza-Norte.
"Em 2020, terminei em 2º lugar na gala de premiação dos melhores poetas de 2019, organizada pela Rádio Online Vida”.
Em 2018, alguns fãs do seu trabalho criaram o Fã Clube Poeta Leal Mundunde. "Precisamos sempre do suporte de outras pessoas”.
Com a Mundu Line, organização de que é o líder, realiza quinzenalmente o Projecto Leitura na Comunidade, com o objectivo de incentivar o hábito pela leitura.
"Recomendo a todos os jovens que evitemos o imediatismo e trabalhemos com foco, persistência e unidade”, conclui.
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