Por: Maiomona Paxe
Quando mais novo, na antiga comuna do Changuluzaku, que traduzido do kikongo, significa "faz força ou tens de ter força ", afecto ao bairro golfe, município do Kilamba Kiaxi, achava eu, que, seria mais feliz quando atingisse a maioridade.
Não, que não fosse feliz naquela época, num bairro composto por malanjinos e bakongos, maioritariamente da província do Uíge.
Pelo contrário, eu e os meus amigos, "Viró", que agora é Cabo das Forças armadas angolanas, Tututu, contabilista; Zé, repositor num dos supermercado, em Luanda e Miguel, que desconheço o paradeiro, a par de outros amigos que fiz na escola e igreja com o mesmo nome: Santa Teresa, no bairro Palanca,em Luanda.
A malta brincava diariamente às escondidas, o ficou, pula na montanha, entre outras brincadeiras da época, que raramente é vista no seio das crianças actualmente.
Como muitas crianças na altura, era também meu sonho, me tornar num futebolista.
No futebol expressava toda minha alegria e habilidade. Era um médio-ala, rápido e goleador, que a posterior passou a actuar como avançado, nas várias equipas do bairro, tendo conquistado muitos campeonatos de rua.
Porém, longe de saber o que viria adiante, achava eu, que a idade adulta seria incrível, que teria maior liberdade e autonomia.
As brincadeiras na infância, eram incríveis, a gente se divertia imenso, mas as regras dos progenitores, quanto ao horário e festas, me faziam crer que, sendo adulto, tudo ficaria mais fácil e animado.
A verdadeira ansiedade, se notava na época natalícia, quando os mais crescidos, podiam anoitecer fora de casa, bebendo e dançando ao som de vários estilos musicais, com predominância ao Kuduro, da banda, zouk, de Cabo Verde e kwassa, da República Democrática do Congo.
Ah! O coração acelerava e o sangue corria rapidamente pelas artérias, pois, a ansiedade de me tornar adulto, era descontrolada, que tudo que eu quisesse na altura, que o tempo passasse como uma flecha e que chegasse a almejada maioridade.
Não sabia o que me esperava, julgando que fosse melhor que a infância, onde com 10kz, poderia assistir a um filme, nas casas de vídeos existentes no interior dos bairros, na época; ou comprar um biscoito ou até mesmo chupar um picolé.
Inocente, lá fui eu, pedindo ao "Ngana", que me concedesse mais anos de vida, para lá chegar.
O tempo passou e as "vírgulas" começaram a aparecer. Tudo que eu mais desejei, se tornou em tudo que mais detesto: ser adulto.
Ninguém me alertou, que em detrimento da diversão, que seria a maioridade, viria também várias responsabilidades, das quais, levaria a minha infância, envelhecesse o corpo e consequente, problemas de hipertensão.
Após a maioridade, tudo se tornou mais difícil. O 1+1=2, se transformou em 1+3a=5b.
O ensino superior transformado em um combate de UFC, no qual, a universidade lhe golpea com uma cabeçada e, tens de responder com um "morote", para ultrapassa-la.
Adiante, à procura pelo emprego, que te deixa completamente desgastado que, até aparecer, já esqueceste todo conteúdo recebido na academia. E isto não é tudo! Tudo ficou caro, que o salário, na maior parte, cobre apenas o transporte e pequenos mantimentos para sobreviver, que senão fizer um "kilape", não terás o que comer para o resto do mês.Ah! Como fui enganado pelo tempo…
O que parecia ser divertido, virou uma dor de cabeça diária.
Como adulto, tens de pensar na apresentação, alambamento, casamento e sustento da família. É muita responsabilidade para aguentar sadiamente.
Tanta, que muitos preferem não crescer e viver na "disbunda", esbaldando-se, de tudo que interfere na sua "vida louca", que na banda alguns chegam a chamar de "mais velho aguado".
Diferente do outrora, as mulheres ficaram mais exigentes e expendidas, que, quase tudo deve ser provido pelo homem, mesmo que sejam básicas: as unhas, roupa, cabelo, telefone e outros. E sinceramente, isso dá cabo da saúde mental, ainda mais, num país onde tudo fica mais caro a cada dia, com governantes que, nada fazem a favor da nação.
Confesso, que fui enganado pelo tempo. Queria eu voltar a ser criança, que ria de tudo e corria em tudo que é canto, para brincar.
Hoje percebo, o porquê das variadas noites que encontrava o meu pai no quintal, com a mão na bochecha. Era muita responsabilidade, que a cabeça já estava a pesar.
Sete filhos para sustentar, mulher e outros familiares, a par de seus objectivos pessoais.
O velho abdicou de sua juventude e vaidade, para carregar às costas, a responsabilidade de ser o chefe da família.E se o país ajudasse?
Não teríamos vários homens tirando a própria vida por depressão, fuga à paternidade, elevada taxa de desemprego, criminalidade e prostituição; todos males causados pela ganância e falta de compromisso dos governantes com o povo.
Queria eu, voltar a infância, onde os meios de comunicação social, ainda desempenhavam, mesmo que por percentagens mínimas, o papel de informar, formar e entreter; onde as igrejas, auxiliavam na formação da persona; onde os médicos eram mais humanistas e, levavam à peito, o juramento de salvar vidas; onde os professores, nem se quer, pensavam em trocar notas por valores monetários e, muito menos, namorar com as alunas.
Ah! Como fui enganado pelo tempo. Queria eu voltar no tempo, onde os palancas negras, quer seja no futebol ou no basquetebol, nos davam a mais pura felicidade, mesmo com as queixas de pouco investimento no sector…
A vida adulta é cheia de responsabilidades, que nem todos têm a capacidade de aguentar.
Não me lembro de uma época melhor que a infância, mesmo que lembre o meu pai dizendo que, em "1975 foi pior".
A guerra civil, deturpou o país e, obrigou de certa forma, nossos pais se tornarem adultos, antes mesmo da idade.
Porém, no meu tempo, tudo parece mais difícil, o dinheiro virou o epicentro de vários problemas que, sem ele, não se faz absolutamente nada.Ah! Como fui enganado pelo tempo.
Queria eu, voltar a ser criança e comprar o meu gelado, banana ou ovo fervido com gindungo, com apenas dez kwanzas (10 kz).
Assistir a um filme, no bairro e jogar futebol o dia todo, sem ter que sustentar ninguém, mesmo sem emprego.Tudo que eu mais desejei, se tornou em tudo que mais detesto: ser adulto…
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