Opinião
Condeno o plágio. Não defendo o plagiador. Plagiar é crime. Violar o direito de propriedade alheia é vergonhoso. Trapacear é um acto de assassinato cultural. É usurpação da identidade criativa e pessoal. Plagiar uma obra com dimensão universal devia ser crime contra a humanidade. Mas até aqui foi o meu “eu” a falar. O eu castrense e autossuficiente. O lado da razão e da crítica soberba. É o lado emocional, do sentimento, do solidário a calar-se. O plágio é vergonhoso quando é o outro a fazê-lo. E é sempre o outro que é o mal. É ele que deve ser repudiado dos “seus” maus costumes. É esse que “nunca deveria ter nascido”. Seria melhor que fosse para a agricultura e deixasse a literatura em paz.
Nós últimos meses saíram obras inéditas, produções [ensaios, contos, crónicas, romances, novelas, críticas literárias] artisticamente conseguidas, de que ninguém fala. O que se opta, diante destas obras de qualidade, é a técnica do cego militante. O cego militante é aquele que condena a “subida” à estátua do guia imortal; aplaude a distribuição de rebuçados e cala-se diante da morte dos “subidores”. É a forma como, actualmente, agimos quando se trata do outro. E neste romance platónico morre sempre os paladinos da revolução. Por quê esses são os outros que fomentam a erupção e o caos social.
Não legítimo o plágio, mas quem sou? O que é o plágio para mim? Para os terráqueos nascidos na mesma placenta do planeta? Há a sensibilidade criativa, assim como, há a falta dela. A criatividade é sempre impulsionada por uma cadeia de “inputs”, vindo de outras criações.
O acto criativo é condicionado por nossas vivências e leituras. É tanta influência que fica difícil diferenciar o novo do adquirido. Quando é que estou a plagiar? No finalzinho ninguém é autêntico. Temos todos um traçozito plagiado. O melhor verso, que nos orgulha, pode ser fruto de um plágio. E como cancro ele se alastra pela obra toda. Temos de ser capazes de cortar o mal pela raiz, para que não se espalhe pela aldeia toda. Não aconteça que ao deixarmos vencer o plágio acabamos com a palavra original. Embora que, para mim, o original é duvidoso. O original não existe neste mundo de milhas de anos. Tudo é reinvenção e “nada é criado”. Mas este é assunto para outras filosofias. A nós cabe ser guardiões dos portões da inovação.
Os mestres da crítica fanfarra se fecham num mutismo sepulcral quando se trata de “elevar” o valor de uma obra. Os cânones surgem depois que alguém “trapaceia”. Apontam defeitos, agridem o plagiador; rebuscam suas diferenças e como carrascos dão a beber cicuta.
Santificam-se para diabolizarem o plagiador. No fundo temos todos culpas no cartório. Somos todos plagiadores só que uns mais dissimulados. Para mim, o plágio está em tudo até no figurino que adoptámos . Ninguém começou, de forma inata, a escrever. Todos tivemos um impulso. Esse impulso inspiracional pode ter sido motivado por um plágio.
Mas atenção não queiramos defender o indefensável. Quando for acusado de plagiar alguém, tenha maturidade de aceitar. E a idoneidade de não viver a trapacear obras construídas com muito esforço e abnegação.
Reflexão avulsa numa noite duvidosa.
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