Por: Leal Mundunde
Os Bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé(CEAST), dizem estar preocupados com a promoção do casamento precose que se verifica em algumas práticas culturais no país.
Segundo os Bispos que falaram a imprensa no final da segunda assembleia anual da CEAST no Saurimo, na Lunda Sul, estas práticas estão ligadas "a um certo espírito de consumismo e aproveitamento do outro." “Por exemplo o rito do alambamento em alguns casos tornou-se um negócio entre famílias e um espaço de aproveitamento do outro e do lucro fácil”.
Relativamente a esta preocupação dos Bispos Católicos, entrevistamos alguns cidadãos angolanos que narraram o que têm constactado sobre o rito do alambamento.
No geral os nossos entrevistados reagiram negativamente a forma como muitas famílias realizam este rito que faz parte da cultura angolana e há quem considera positivo.
VISÃO DA POPULAÇÃO SOBRE O ALAMBAMENTO: DIVERGÊNCIA DE IDEIAS
O professor de História, Matondo Pedro Komba, disse que em muitas famílias tem verificado atitudes positivas e por parte de outras negativas. "Positivas porque é uma norma cultural que deve ser cumprida, ou seja é o casamento tracional e digo atitudes negativas pois há familias que se aproveitam da situação e cobram coisas que não tem nada a ver com este mesmo ritual. Coisas que até mesmo eles nem conseguem dar ".
Matando Pedro Komba alerta que muitas familias recomendam o cumprimento obrigatório desta prática alegando que pode acontecer situações nefastas aos casais e consequentemente aos seus frutos que são os filhos.
O cidadão Tadeu Mizele afirma que cada grupo étnico te uma forma diferente de realizar este casamento tradicional africano. "Exemplo: o meu grupo étnico ( Bakongu), o alambamento é considerado como casamento propriamente dito com a família e não somente com os noivos. Antes de realização do acto em destaque o noivo recebe uma carta onde contem os bens ou simplesmente produtos que as duas famílias ( família materna e paterna), pedem para o alambamento da filha. A entrega destes bens serão divididos pelas duas famílias acima transcritas".
Relativamente ao que se pede, a nossa fonte afirma que depende muito de casa família pelo que recomenda o cumprimento obrigatório.
Tadeu Mizele vai mais longe ao afirmar que o noivo caso engravidar a sua parceira antes do alambamento, deve pagar uma multa, porque "o camarada não entrou na porta principal, entrou pela janela. Então deve pagar", rematou.
"Hoje o alambamento deixou de ser um rito cultural e transformou-se em comércio", disse Luís Capitão Mor, justificando que ha familias que exageram nos bens materiais que pedem.
" Há muitas irregularidades meu caro, como se tivessem a vender a filha", lamentou Armindo Ngunza.
Tadeu Mizele respondeu que não observa nenhum exagero e exorta que "temos que entender cada família",por terem rituais diferentes e deve ser obedecidos”.
" A cultura deve ser respeitada, foi herdada pelos nossos ancestrais e devem sim dar sequência para não desaparecer. Então só considera exagero quem não quer respeitar a família", desabafou.
Opinião contrária tem o Jornalista Hernani Correia, que considera ctualmente o rito do alambamento no país, estar fora dos padrões normais ditados "pela nossa tradição".
O Jornalista disse que a aculturação e a ambição financeira de algumas famílias tem descaracterizado o ritual do alambamento em Angola, "de um acto simbólico e união entre duas famílias, agora parece ser um autêntico negócio de compra e venda".
Matando Pedro denuncia a existência cidadãos que pedem terrenos, motor, plasma,arma (caçadeira) e outros bens materiais que considera exagero.
São várias as consequências que o Luís Capitão Mor apresenta para as famílias que supostamente exageram no que se pede para a realização do alambamento. “A Fuga a paternidade pois quando não existe condições de satisfazer o que a família solicita a única solução é não assumir as responsabilidades como pai. Construção de famílias desestruturadas” é outra consequência que o entrevistado do Portal Mundunde Online Angola aponta.
Perante esta conjuntura em que alguns consideram exagerado a forma como se realiza o alambamento em certas famílias angolanas, os cidadãos apelam as familias a preservem o que é cultural e não se deixarem levar pelo modernismo.
Hernani Correia augura por sua vez os parentes reflitem antes de agirem e lembrar "o que está em causa é o futuro dos seus filhos, juntos em defesa da nossa identidade cultural".
Recordar que o rito do alambamento no país foi um dos assuntos refletidos pelos Bispos de Angola e São Tomé e Principe, que estiveram reunidos na segunda assembleia anual na cidade de Saurimo de nove a 14 de Outubro deste ano, onde analisaram a situação da Igreja e os desafios que a sociedade enfrenta.
De acordo a CEAST a prática do alambamente em alguns casos está "aliado a um certo espírito de consumismo e aproveitamento do outro e do lucro fácil.
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